quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A liberdade de expressão é feia

Há pessoas um pouco incomodadas por serem chamadas a defender um jornal de que não gostam, que faz caricaturas que alguns consideram de mau gosto, como se isso fosse crime suficiente para justificar — ou, pelo menos, relativizar — a morte a sangue frio.

Ora, aqui está um ponto de que poucos se lembram quando falamos de liberdade de expressão: a liberdade de expressão é feia. 

Se este direito servisse apenas para proteger o que é bonito, não serviria para nada. Sim, todos temos a liberdade de expressar opiniões parvas, de difundir ideias erradas, de desenhar cartoons provocadores, de criar programas de televisão desinteressantes e de debater ideias sagradas.

É nisso que consiste essa liberdade de expressão.

Então, mas porque dar esta importância a um direito aparentemente tão rasteiro? É óbvio que há ideias melhores do que outras. Por que razão temos de aceitar a divulgação de ideias obviamente erradas — algumas delas francamente perigosas?

Para começar, pensemos: se alguma ideia é obviamente errada, porquê proibi-la? Depois, a proibição pode ser contraproducente. Se alguém souber que existe uma ideia que ninguém pode discutir, ficará tentado a pensar que a ideia até é capaz de ser boa — afinal, não bastou apresentar argumentos, foi preciso proibi-la. Por fim, nunca sabemos se no conjunto daquelas ideias que achamos erradas não estará uma ideia que, bem vistas as coisas, até é acertada.

Seja como for, não é só para defender a liberdade de expressão que é preciso defender o Charlie Hebdo: mesmo se achássemos que a publicação ultrapassou um qualquer limite (e duvido muito), o desrespeito por esses limites nunca seria justificação para matar alguém.


Sim, a liberdade de expressão é feia. Por isso, limitá-la é uma tentação que precisamos de combater todos os dias.